Crítica | Festival

Yes or No?

(Yes or No: Yaak Rak Gaw Rak Loey, THA, 2010)

Comédia
Direção: Saratswadee Wongsomphet
Elenco: Sushar Manaying, Supanart Jittaleela, Arisara Thongborisut, Soranut Yupanun, Inthira Yeunyong
Roteiro: Saratswadee Wongsomphet
Duração: 111 min.
Nota: 5 ★★★★★☆☆☆☆☆

Já não é mais novidade nos depararmos com a veiculação de notícias sobre medidas na Tailândia que demonstram a tolerância deste país em relação a gays e transgêneros. A iniciativa da escola Kampang em construir um banheiro para os alunos transexuais e a contratação de uma equipe de comissários de bordo formada por transexuais e travestis são alguns dos exemplos mais recentes.

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O cinema tailandês lida com esta diversidade sexual há alguns anos. Basta nos lembrarmos de filmes como As Damas de Ferro e Beautiful Boxer. O primeiro, uma comédia lançada em 2000, fez sucesso internacional ao contar a história, baseada em fatos reais, de um time de vôlei composto basicamente por gays e transexuais e sua participação no campeonato nacional. O segundo, produzido em 2004, é sobre o lutador de muay thai Parinya Charoenphol, que foi submetido a uma cirurgia de mudança de sexo.

Já a produção de filmes que abordam a diversidade sexual feminina é relativamente nova naquele país. Apenas em 2010 estreou Yes or No?, considerado o primeiro filme de temática lésbica da Tailândia. A adolescência, fase da vida onde predominam as descobertas, é a escolhida para retratar o romance homossexual. Assim como no excelente Assuntos de Meninas, as protagonistas são estudantes e dividem o mesmo quarto no dormitório, mas as semelhanças entre o filme de Léa Pool e a produção de Saratswadee Wongsomphet param por aí.

Pie solicita uma mudança de quarto na faculdade, porém a sua nova roommate nem de longe se parece com o que ela esperava. O preconceito em conviver com uma garota que se assemelha a um rapaz leva Pie a delimitar o espaço entre elas. Entre rusgas e torcidas de nariz, as adolescentes vão se aproximando com a convivência diária e a barreira que existia, ou melhor, a fita no chão que as separavam, some.

O que acontece é o típico romance que floresce após a quebra da antipatia inicial, o prejulgamento de Pie desaparece frente ao jeito cativante e dócil de Kim. A partir daí, as garotas vão precisar lidar com os anseios do primeiro amor ao mesmo tempo que descobrem a própria sexualidade.

Além de abordar o relacionamento entre duas garotas, Yes or No? dialoga sobre a aparência sem poupar nos estereótipos. A nerd, o afeminado, o pretendente atencioso, a tia compreensível, a mãe preconceituosa, a romântica, dentre outros, estão presentes na história, mas o foco está nas meninas intituladas de tomboys (garotas que se vestem e tem comportamentos tipicamente masculinos, podendo ser ou não homossexuais).

Previsível e preconceituosamente, para demonstrar que precisamos ir além do que se vê, o roteiro contrói uma Kim que gosta de jogar videogame, não usa roupas femininas, tem o cabelo curto e seu corpo praticamente sem curvas ajuda na construção da sua aparência de menino, mas mesmo assim tem dotes culinários, além de temer o escuro e a baratas.

Apesar de tudo, a reflexão é válida e, mesmo usando uma analogia com peixes, não deixa de ser feita de forma didática, com diálogos repletos de questionamentos e definições, passando bem longe da sensibilidade apresentada por Céline Sciamma ao expor o tema em seu filme de mesmo nome, Tomboy.

Com sua qualidade cinematográfica comprometida por marcações de cena televisivas, elipses de tempo em fade-out, e uma trilha melosa demais, a comédia romântica juvenil tem elementos que ajudam a manter o ritmo, como mal-entendidos, dúvidas, superação das adversidades, boas tiradas de humor e momentos (muitos momentos) açucarados.

Funcional, a obra consegue tocar a questão homossexual e até cumpre a promessa de crítica sobre as aparências, ainda que o desenvolvimento destes pontos deixe a desejar. Caindo na armadilha de seguir pelo caminho do inverossímil romance caramelizado, Yes or No? perde uma boa oportunidade de utilizar o bom humor para expor de maneira descontraída temas ainda polêmicos na sociedade.

Um Grande Momento

A cena do estilete.

Links

IMDb [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=L3gq9fWzuQ4[/youtube]

Mila Ramos

“Soteropaulistana”, publicitária, amante das artes, tecnologia e sorvete de chocolate. O amor pela Sétima Arte nasceu ainda criança, quando o seu pai a convidava para assistir ao Corujão nas noites insones. Apaixona-se todos os dias e acredita que o cinema é capaz de nos transportar a lugares nunca antes visitados. Escreve também no Cartões de viagens imaginárias.
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