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What Happened, Miss Simone?

(What Happened, Miss Simone, EUA, 2015)

Documentário
Direção: Liz Garbus
Roteiro: Liz Garbus
Duração: 100 min.
Nota: 8 ★★★★★★★★☆☆

Depois de anos estudando piano clássico, tocando em bares para se sustentar e adotando um nome falso para não ser descoberta, Nina Simone tornou-se uma das grandes artistas da música. Com sua voz marcante e um jeito muito particular de misturar jazz e soul, ela conquistou multidões e tentou fazer de sua voz uma arma contra o preconceito racial.

O documentário What Happened, Miss Simone?, dirigido por Liz Garbus e produzido pela Netflix, tenta trazer de volta a imagem da mulher forte que acabou dominada pela decepção e ficou um longo tempo longe dos palcos. Com depoimentos de parentes e amigos íntimos, áudios e entrevistas da própria Simone e vários vídeos de performances suas nos palcos, aquela figura vai ganhando contornos reais.

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Apesar de contar a história da cantora desde seus primeiros anos de vida, o casamento tumultuado com o homem que viraria seu empresário, a relação confusa com a filha, e o período de militância pelos direitos negros, o documentário faz questão de explorar o que está por trás das ações.

A solidão da estrela quando os refletores se apagam; um ódio que irrompia em crises esporádicas, assim como o desejo sexual; a questão racial, não conversada em casa quando criança, mas percebida desde muito cedo, em sua primeira audição de piano.

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What Happened, Miss Simone? dedica boa parte de sua pesquisa à participação de Nina no ativismo pelo fim da segregação racial. Sua presença na marcha de Selma, as longas reuniões com grupos de amigos simpatizantes, o envolvimento com grupos mais radicais do movimento. Tudo isso está bem apresentado no longa.

A consciência da cantora de que era preciso voltar às origens e fazer com que os próprios negros se vissem com olhos não contaminados pela propaganda segregatória branca está presente em várias de suas composições e entrevistas do período.

A militância, porém, agravada pela falta de um retorno e o aumento considerável da incitação à violência nos palcos comprometeram a agenda dos shows. Ninguém queria shows políticos e Nina Simone via suas chances de se apresentar reduzidas.

Nina prosseguiu até onde conseguiu. Depois de várias decepções acabou por desistir, mas já estava esgotada mentalmente e doente, com distúrbios psiquiátricos, que já haviam aparecido antes, e agora se apresentavam em estágio avençado. De uma hora para a outra, ela largou tudo para trás, inclusive casa, carreira e filha, e foi embora para África.

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Garbus não busca por nenhum momento em What Happened, Miss Simone? fazer com que o espectador se apiede de sua personagem principal ou a condene. Como na história de qualquer pessoa, há momentos em que se sente raiva, outros em que se sente pena, mas isso fica por conta do espectador.

A diretora, mesmo que opte por depoimentos potencialmente manipuladores, sabe como usá-los de maneira isenta. Ela apenas conta a história, tentando responder à pergunta que dá nome a seu filme.

What Happened, Miss Simone? é valorizado pela pesquisa realizada e o bom levantamento de material de arquivo sobre a cantora. Trechos de canções interpretadas na bela voz de Nona Simone também são um atrativo à parte.

Um Grande Momento:
“Vamos começar do início”.

Oscar-logo2Oscar 2016 (Indicações)
Melhor Documentário

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Links

IMDb [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=iuN3SGzLGmw[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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