Crítica | Streaming e VoD

Plano A, Plano B

À moda antiga

(Plan A, Plan B, IND, 2022)
Nota  
  • Gênero: Comédia, Romance
  • Direção: Shashanka Ghosh
  • Roteiro: Rajat Arora
  • Elenco: Riteish Deshmukh, Tamannaah Bhatia, Poonam Dhillon, Kusha Kapila
  • Duração: 105 minutos

Há alguns anos, ouvi de uma cinéfila que existia algo que chamava atenção nas produções turcas, especificamente nas telenovelas. Ela estava particularmente encantada com a verdade dos sentimentos que eram reproduzidos nessas produções, onde as histórias de amor tinham peso real, e as declarações só eram feitas em condições de certeza absoluta. Assim como as cenas de romance mais gráfico, que só existiam depois de muita intenção da parte dos personagens. Nada era leviano ou rápido, dizia ela. A produção indiana que acabou de estrear na Netflix, Plano A, Plano B, confirma essa tese de que existem títulos sendo produzidos para a apreciação de um público anti-365 Dias, com o romantismo voltando à moda e que o mesmo está cada vez menos antiquado. 

Talvez seja uma resposta do público ao caráter mais explícito de uma fatia da cinematografia produzida em grande parte no Ocidente. Não apenas em produções sexualizadas, embora também resida aí parte dessa busca pelo amor mais puro. Quando cito esse caráter exposto de filmes românticos, falo até de uma normalidade dos filmes em abrir frontalmente as declarações e demonstrações de amor entre seus personagens. Pode parecer exagero, mas as pessoas sentem falta do caráter romântico que as comédias dos anos 90 traziam ao gênero. Não se trata apenas de falar de amor, mas de falar de um tipo específico de amor, aquele que não existe mais, nem na vida real. Com sua postura comedida, Plano A, Plano B vem suprir essa carência. 

O filme está exatamente nessa seara, e sua premissa é de fazer babar à Meg Ryan de 30 anos atrás. O escritório de uma jovem casamenteira se muda para o mesmo andar de um renomado advogado especialista em divórcios – pronto, é o suficiente para compreender a guerra dos sexos que se formará, e o real significado por trás de tanta irritação mútua entre os protagonistas. Com uma situação irresistível dessa, podemos dizer que Plano A, Plano B estaria pronto para um remake americano protagonizado por, digamos, Emma Stone e Hugh Jackman, por exemplo. Do jeito que ainda está apresentado no original, salta aos olhos a forma como o filme lida com os sentimentos de seus protagonistas e com as cenas românticas entre ambos. 

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Toda essa situação é tratada no extremo da leveza, na comédia ou no romance. Sem soar como infantil ou ingênuo, o filme apenas não apimenta suas situações, quase parece um monolito perdido no tempo e no espaço. É até simpática a forma como seus protagonistas se relacionam, uma releitura das azeitadas ‘comédias malucas’ dos anos 50, um jogo de gato e rato delicioso que esconde aquelas paixões arrebatadoras que todos conhecemos. Tanto a área cômica quanto a romântica estão atreladas ao que o cinema não produz mais, exalando uma pureza até mesmo nos momentos íntimos; reparem em como os atores Riteish Deshmukh e Tamannaah Bhatia interagem em suas cenas, com muito cuidado, delicadeza e até certa castidade. 

Esses elementos dão a Plano A, Plano B uma aura completamente diferente do que estamos acostumados a encontrar nos títulos de qualquer gênero hoje. Não há cinismo ou algum tipo de picardia mais apimentada na produção, que deve agradar tanto ao público que se volta para títulos mais tradicionais quanto para cinéfilos em busca de experiências diferenciadas. Não há muitas opções como o título dirigido por Shashanka Ghosh no mercado hoje, por isso suas falhas de roteiro e suas obviedades acabam tendo sua importância diminuída, frente a um programa tão inusitado. É no mínimo refrescante que algo tão longe das nossas impressões seja lançado, e acabe reverenciando não apenas um tempo social já inexistente, mas também um andamento de cinema que parece esquecido. 

Um grande momento

O primeiro beijo

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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