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Um Divã para Dois

(Hope Springs, EUA, 2012)

Comédia
Direção: David Frankel
Elenco: Meryl Streep, Tommy Lee Jones, Steve Carell, Brett Rice, Elisabeth Shue, Mimi Rogers, Jean Smart, Ben Rappaport, Marin Ireland
Roteiro: Vanessa Taylor
Duração: 100 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

Depois de receber o seu terceiro Oscar pela interpretação de uma das mulheres mais influentes da política mundial em A Dama de Ferro, Meryl Streep volta às telas de cinema dando vida a uma frágil dona de casa sexagenária, carente e frustrada com o seu casamento após 31 anos de convivência com seu marido. O seu parceiro em questão é ninguém menos que Tommy Lee Jones, que faz Arnold, o cônjuge acomodado e resmungão.

Kay e Arnold já não fazem sexo há cinco anos, dormem em quartos separados e levam uma vida enfadonha. Com a partida dos filhos de casa, o que restou a eles foi a companhia um do outro. Quer dizer, a “não companhia”. Ele passa as noites vendo jogos ou programas sobre golfe até adormecer, ela por não gostar deste esporte limita-se apenas a desligar a TV. O maior momento de intimidade entre os dois é durante o café da manhã, onde religiosamente Kay prepara ovos com bacon para Arnold e os dois conversam sobre alguma coisa banal.

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Na tentativa de mudar a rotina que a incomoda tanto, Kay convoca Arnold a fazerem terapia de casal e, apesar de achar a ideia nada agradável, o marido cede aos apelos da mulher e eles partem para o estado do Maine. Quem conduz a terapia é o Dr. Feld (Steve Carrel), um expert em relações conjugais. Sentados distantes um do outro no sofá do terapeuta, o casal tenta recuperar a intimidade perdida.

Dirigido por David Frankel (O Diabo Veste Prada), Um Divã Para Dois retrata, com tom cômico, alguns dos dilemas enfrentados por parte dos maridos e esposas acima dos 60 anos de idade. O esfriamento das relações sexuais, o afastamento progressivo de ambos e a sensação de continuar juntos por puro comodismo. O roteiro de Vanessa Taylor (famosa produtora e roteirista de TV, estreando com esta produção em longas metragens) tem a coragem e o equilíbrio suficientes para debater de forma aberta e clara temas como fantasias sexuais e sexo oral, dentre outros assuntos que também fazem parte do universo de pessoas em tal faixa etária.

Apesar de ser uma comédia, Meryl Streep encarna com sabedoria o sofrimento e angústia de Kay. Ela transmite na medida certa a sua solidão e a frustração por se sentir desejada pelo marido, sem perder o lado cômico das situações. Mas é a atuação de Jones que proporciona momentos deliciosos no filme. O seu Arnold é aquele tipo de homem criado no modelo machista e, por isto, não sabe lidar com suas próprias angústias e, muito menos, com a carência afetiva da esposa. Ele se sente extremamente incomodado com as questões e exercícios propostos pelo Dr. Feld e se vê obrigado a sair da sua zona de conforto para atender às expectativas de Kay.

Provocando diversas reações no público, o longa reflete bem como a sociedade enxerga a vida sexual de um casal de meia-idade. É praticamente um tabu, inclusive para eles próprios, falar sobre isto. Desta forma, alguns elementos são fundamentais para transpor esta barreira e conseguir transmitir a mensagem de forma tão direta. Levar ao público este tema através de uma comédia ajuda bastante tirando o peso das situações. Trazer no elenco a incrível parceria entre Meryl Streep e Tommy Lee Jones foi fundamental para que a história não caísse no caricato.

O filme é uma grata surpresa. Quem se limita apenas a ler a sinopse acaba não percebendo sua dimensão exata. É lógico que ele se apoia nas situações cômicas, mas é o retrato do estágio de vida deste, e de tantos outros casais, o que de fato realmente importa.

Um Grande Momento

‘Why’

Um Divã para Dois

Links

IMDb [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=GIQaiztaeZo[/youtube]

Mila Ramos

“Soteropaulistana”, publicitária, amante das artes, tecnologia e sorvete de chocolate. O amor pela Sétima Arte nasceu ainda criança, quando o seu pai a convidava para assistir ao Corujão nas noites insones. Apaixona-se todos os dias e acredita que o cinema é capaz de nos transportar a lugares nunca antes visitados. Escreve também no Cartões de viagens imaginárias.
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