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Tropicália

(Tropicália, BRA, 2012)
Nota  
  • Gênero: Documentário
  • Direção: Marcelo Machado
  • Roteiro: Marcelo Machado, Di Moretti, Vaughn Glover
  • Duração: 82 minutos

No final da década de 60, enquanto algumas pessoas estavam ocupadas em nascer e morrer havia uma geração de artistas inquietos transformando a história do nosso país. Mesclando tradições genuínas da cultura brasileira aos movimentos de vanguarda e da cultura pop estrangeira, este grupo queria voz, queria dar vazão a tudo aquilo que pensava sobre os acontecimentos da época. Através de uma espécie de geleia geral, as manifestações pipocaram em forma de música, cinema, teatro, poesia… Era o tropicalismo nascendo.

A história deste movimento é muito bem contada no documentário do diretor Marcelo Machado. Estão todos lá: Caetano, Gil, Mutantes, Tom Zé, Duprat (e a sua influência erudita na música popular), Glauber, Hélio Oiticica (o pai do nome Tropicália), José Celso Martinez Corrêa, dentre muitos outros que, de forma direta ou indireta, contribuíram para sacudir o que estava, para eles, fora da ordem. Esta preciosidade do cinema nacional não é apenas mais um relato de um período revolucionário da história política e cultural do Brasil, ele é uma cápsula do tempo capaz de nos transportar para aquele momento.

Tropicália

Dividido entre antes e depois do Ato Institucional Nº 5, o roteiro carrega um clima saudosista. Traz desde os festivais de música e a influência da TV na massificação do movimento até o exílio em Londres de alguns dos ícones da Tropicália. A edição é uma das grandes virtudes deste documentário. É quase literalmente um painel cultural e político do final da década de 60. Mais do que trazer imagens raras e desconhecidas (num trabalho de pesquisa primoroso), a forma como elas são colocadas e coladas na tela faz toda a diferença. Some-se a isto canções poderosas e temos um filme impressionantemente sensorial.

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Nos momentos musicais, em preto e branco, é possível perceber toda a paixão e entrega dos seus intérpretes tropicalistas. É emocionante ver e ouvir ‘Panis Et Circenses’, ‘Carcará’, ‘Divino Maravilhoso’, ‘Tropicália’ e muitas outras canções que fazem parte desta produção. Outros pequenos deleites do filme são a fala eloquente e inconfundível de Caetano, a cena de Maria Bethânia e a explicação impagável de Tom Zé para um determinado acontecimento.

Tropicália relata com precisão todo o clima da época e expõe a sobrevivência dessas manifestações artísticas em tempos de ditadura militar. Mostra também muitos dos protagonistas (uma grande parte deles ainda na ativa) da formação da identidade cultural brasileira. Mas acima de tudo ele é um filme com alma, daqueles que te faz sair do cinema encantado.

Um excepcional registro que parece ser tão atemporal quanto este movimento que subverteu e fez uma nação pensar através da arte.

Um Grande Momento
Asa Branca

Mila Ramos

“Soteropaulistana”, publicitária, amante das artes, tecnologia e sorvete de chocolate. O amor pela Sétima Arte nasceu ainda criança, quando o seu pai a convidava para assistir ao Corujão nas noites insones. Apaixona-se todos os dias e acredita que o cinema é capaz de nos transportar a lugares nunca antes visitados. Escreve também no Cartões de viagens imaginárias.
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