Crítica | Cinema

Broker – Uma Nova Chance

As famílias de Kore-eda

(Broker, KOR, 2022)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Hirokazu Kore-eda
  • Roteiro: Hirokazu Kore-eda
  • Elenco: Song Kang-ho, Gang Dong-won, Bae Doona, Lee Ji-eun, Lee Joo-young, Im Seung-soo, Park Ji-yong
  • Duração: 129 minutos

Mais uma vez Hirokazu Kore-eda volta suas lentes para a família, e não a estrutura tradicional que se costuma alardear por aí. Sua trama segue a complexidade apresentada no filme anterior, Assunto de Família, onde condições de classe são determinantes para definir papéis e conexões. Aqui, filmando na Coreia do Sul, o ponto de partida é um serviço social deste país: as caixas de bebê, locais onde as pessoas deixam os recém-nascidos anonimamente para que sejam amparados pela assistência social. 

O broker (intermediário) do título é Ha Sang-hyun, vivido por Song Kang-ho, que se tornou conhecido por Parasita. Ao lado de um comparsa, ele é um trambiqueiro que, ao invés de seguir os trâmites legais, separa algumas das crianças deixadas em sua caixa de bebê para vendê-las a casais abastados. Acontece que, além de já ter levantado suspeitas e seus passos serem acompanhados de perto por uma dupla de policiais, tem que lidar com a mãe do último bebê escolhido para uma transação, e mais um outro fofíssimo personagem aleatório que surge pelo caminho.

Broker - Uma Nova Chance
Cortesia Festival do Rio

Broker: Uma Nova Chance é um road movie que vai se construindo com as tentativas da transação da venda da criança e a investigação policial, mas atento às questões que perpassam aquelas existências e ao contexto social em que estão inseridas. Há habilidade no trabalhar com essas seis personagens que são tão diversas, mas trazem em si características afins marcantes e que têm na solidão uma distinção. Todos têm o seu tempo e a sua relevância; e a força do encontro – e das micro composições – faz com que o longa ganhe pontos não só em candura, mas em interesse.

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Kore-eda é excelente no trabalho com atores e consegue estabelecer uma trama natural, mesmo em nos absurdos que a compõe. O vínculo que ele estabelece de familiaridade e proximidade é fundamental para que o estranhamento ao tema e à própria conduta sejam superados. Ao partir do errado e condenável, ao escolher as atitudes de seus protagonistas e transformar conceitos e expectativas, o diretor, não pela primeira vez, provoca aquele que assiste ao filme e força olhares para além do usual.

Broker - Uma Nova Chance
Cortesia Festival do Rio

Não que se chegue em lugares inesperados. Broker vai até onde poderia ir um título do cineasta japonês. Mais do que isso, por ser um filme que fala de família, sociedade e vida real, não abre espaço para muitos outros desfechos. Mas é emocionante e tem essa função de fazer repensar as estruturas, vendo além do padrão, em especial quando o privilégio faz com que tantas certezas sejam tão prontamente pré-estabelecidas.

Um grande momento
Encontro no pier

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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