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O Menino e o Mundo

(O Menino e o Mundo, BRA, 2014)

Animação
Direção: Alê Abreu
Roteiro: Alê Abreu
Duração: MIN min.
Nota: 10 ★★★★★★★★★★

Uma trilha sonora curiosa parece dar vida a um jogo de imagens coloridas ou imagens coloridas parecem dar cadência à trilha sonora cativante. Repetições que lembram ora uma trama, ora o movimento celular (de células, não do telefone), ora as imagens de um calidoscópio tomam conta da tela. É aos poucos que o público vai encarar e assimilar o protagonista. Com uma boa animação em 2D e traços simples, conhecemos aquele menino e o acompanhamos em sua jornada de descobertas, redescobertas, autodescobertas.

É difícil resistir ao longa-metragem O Menino e Mundo, animação dirigida por Alê Abreu, que conquistou a crítica especializada em 2014 e apareceu como um dos indicados ao Oscar 2016 na categoria de animação. O bom de tudo isso é que o filme está de volta aos cinemas e agora pode ter o alcance que merecia ter tido desde seu lançamento.

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Em tempos de muitos efeitos e animações que buscam impressionar por técnicas apuradas que acabam aproximando a criação da realidade, O Menino e o Mundo é a prova de que uma história pode falar alto ao coração de seus espectadores de uma outra maneira. O lúdico, a música e a poesia, integrados a uma animação bem menos modernosa e cheia de parafernália dão à mensagem do longa-metragem, muito mais volume e alcance.

E há muita mensagem acompanhando aquele menino em seu passeio por esse vasto mundo. A família e tantos sentimentos ligados a ela dividem espaço com a destruição que chega com o capitalismo e a vontade de ganhar sempre mais e pagar menos. Onde um círculo de busca, servidão, substituição e morte criou uma enorme quantidade de meninos, que precisam resgatar o seu lugar no mundo a todo momento.

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O roteiro tem uma estrutura circular, que faz questão de deixar clara logo nos primeiros momentos do filme, antecipando a quem o assiste que aquele será o modo de desenrolar o novelo que adotará durante toda jornada. O curioso é que, com sua simplicidade e simpatia, faz com que isso se torne um detalhe marcante e fundamental e, assim, surpreenda a cada nova volta de sua história.

Como é uma animação, o efeito do filme nos pequeninos também é relevante. Sabemos que aos mais velhos, mas como será que as crianças veem isso? O colorido, as repetições visuais e a trilha sonora são muito atraente às crianças mais novas e as crianças mais velhas, além de aproveitarem o veem pelo mesmo motivo, apegam-se ao personagem.

Com a idade aumentando, cresce também a consciência da proximidade daquilo que se vê na tela e uma identificação dos problemas, que, por sua vez, acerta em cheio o coração dos adolescentes, dando à mensagem uma potência avassaladora.

É nessa relação com o público que O Menino e o Mundo tem a sua maior força, indubitavelmente. A conexão é tão forte, e tão reconhecível e verdadeira, que fica fácil compreender todo o fascínio que o longa-metragem causou entre os críticos brasileiros e na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood este ano.

E que essa seja uma nova oportunidade ao filme, que, seguindo o padrão brasileiro, acabou menosprezado nas salas de cinema quando esteve em cartaz e encontra agora uma nova oportunidade de ser descoberto por muito mais pessoas.

Um Grande Momento:
Chegando em casa.

Oscar-logo2Oscar 2016 (indicações)
Melhor Animação

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Links

IMDb [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=DWlQ0YrxWV8[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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