Crítica | Streaming e VoDOscar

O Lobo do Deserto

(Theeb, ARE/QAT/JOR/GBR, 2014)

Drama
Direção: Naji Abu Nowar
Elenco: Jacir Eid Al-Hwietat, Hussein Salameh Al-Sweilhiyeen, Hassan Mutlag Al-Maraiyeh, Jack Fox
Roteiro: Bassel Ghandour, Naji Abu Nowar
Duração: 100 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

A vastidão do deserto serve como pano de fundo para a história da tribo de beduínos da qual Theeb faz parte. Seu nome significa lobo e ele é o caçula de três irmãos. o mais velho ocupa agora o lugar do pai, que acabou de falecer, e o do meio é de quem é mais próximo.

O Lobo do Deserto volta às paisagens do deserto de Wadi Rum e à Primeira Guerra Mundial, locação e período do clássico Lawrence da Arábia, em uma espécie de contraposição, para abordar, de maneira precisa, mas nem sempre explícita, a chaga da colonização bélica. Enquanto os conflitos entre árabes e turcos eram constantes naquela pequena província do império otomano e em toda a região, um poder muito maior preparava-se para dominar tudo. A subserviência exigida e o pouco respeito às tradições contrastam com a hospitalidade e deferência da tribo de Theeb.

Apoie o Cenas

Se o assunto é tratado de maneira macro no filme, há uma outra história individual que ganha especial atenção e vem para reforçar a mesma leitura. O jovem Theeb precisa abandonar sua infância e encarar uma nova e inesperada realidade da vida. Tentando se agarrar a suas tradições, mas tendo que tomar atitudes para as quais nunca fora preparado.

Em seu longa de estreia, Naji Abu Nowar consegue surpreender pela segurança com que conduz sua história. O modo como trabalha a tensão e o suspense sem apelações ou exageros e em um ambiente tão aberto e, por vezes, ausente de acontecimentos é bastante curioso.

O-lobo-d-deserto_interno1

A forma como aborda a violência, fazendo com que ela vá surgindo aos poucos na narrativa e nunca mais a abandone depois de atingir o clímax, faz com que sua história estabeleça um alto nível de credibilidade e realmente se conecte com aquele que a acompanha.

Para somar ainda mais à experiência, O Lobo do Deserto conta com uma atuação inspiradíssima do jovem Jacir Eid Al-Hwietat como Theeb. É impressionante como, apesar da pouca idade, ele é capaz de transmitir tantas coisas e se comunicar de maneira tão clara por meio do olhar. A seleção do menino foi mais um acerto do diretor iniciante, que, com a exceção de Jack Fox, escalou apenas não atores para o filme.

O Lobo do Deserto conta ainda com uma boa direção de fotografia, que sabe se aproveitar da beleza natural das locações; uma boa e bem encaixada trilha sonora, e com um bom trabalho de reconstituição de época.

Porém, em meio a tantos acertos, alguns equívocos podem ser percebidos, como o prolongamento excessivo de algumas cenas; cortes pouco naturais em passagens mais contemplativas, e aquela vontade de mostrar tudo que é potencialmente belo que costuma acompanhar os diretores principiantes.

Mas é um filme bem bonito, que, em sua simplicidade, tem bastante coisa a dizer.

Um Grande Momento:
O poço.

Oscar-logo2Oscar 2016 (Indicações)
Melhor Filme em Língua Estrangeira

O-Lobo-do-Deserto_poster

Links

IMDb [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=3_vbG89CxuQ[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
2 Comentários
Inline Feedbacks
Ver comentário
Cecilia Barroso
Cecilia Barroso
13/02/2016 11:13
Responder para  Marcio Melo

Sim! E um prêmio merecido, porque é um filme bem interessante mesmo. Seguro, elegante. Gostei um bocado!

Marcio Melo
Marcio Melo
12/02/2016 14:55

Sim, um filme bem bonito, um “comming of age” das “arábias”. Acho que a indicação ao Oscar já é o seu grande prêmio.

Botão Voltar ao topo