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O Espião Que Sabia Demais

(Tinker Tailor Soldier Spy, FRA/GBR/ALE, 2011)

Suspense
Direção: Tomas Alfredson
Elenco: Mark Strong, John Hurt, Gary Oldman, Toby Jones, David Dencik, Ciarán Hinds, Colin Firth, Kathy Burke, Benedict Cumberbatch, Stephen Graham, Arthur Nightingale, Simon McBurney, Tom Hardy
Roteiro: John le Carré (romance), Bridget O’Connor, Peter Straughan
Duração: 127 min.
Nota: 8 ★★★★★★★★☆☆

Olhos abertos e ouvidos atentos são fundamentais para acompanhar tudo o que se passa na trama de O Espião Que Sabia Demais. Fiel ao intrincado romance de espionagem de mesmo nome, escrito por John Le Carré e lançado em 1974, o filme deixa de lado as regras do atual cinema de espionagem repleto de explosões e cenas batidas e entrega ao espectador uma quantidade enorme de informações, nomes, histórias, situações e o deixa resolver o suspense.

Não há uma linha de tempo clara, grandes diferenciais entre os personagens, uma preocupação com diálogos explícitos e, muito menos, as tão batidas cenas de ação. Muito além daquela mania dos americanos de, subestimando a capacidade pensante do público, explicar até o que é explícito, o longa inglês vive de seu próprio mistério e, como todo bom mistério, é preciso atenção para desvendá-lo.

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No auge da guerra fria, a MI6, agência de inteligência britânica, recebe a informação de que existe um traidor entre eles. Um de seus agentes estaria passando informações à KGB, agência soviética de espionagem. Para descobrir a identidade do traidor, Jim Prideaux, é mandado a Budapeste para encontrar-se com um antigo general húngaro, mas a missão é um fracasso e fica subentendido que só alguém com acesso a informações restritas, integrante da cúpula da agência, poderia ser o procurado.

O chefe da agência é Control e Smiley, o seu braço direito. Perdidos entre indícios e fatos desconexos, os dois não conseguem chegar a um nome e acabam sendo afastados de suas funções. Com a morte do primeiro, Smiley volta à ativa e tenta descobrir qual de seus pares está passando a informação adiante. A partir daí, muitas idas e vindas, conversas ao pé do ouvido, detalhes resgatados em pequenas e longínquas lembranças, sumiços, aparecimentos, encontros e gravações até que o nome se revele.

Logo de cara, percebe-se o toque do sueco Tomas Alfredson na direção. Assim como em seu maior sucesso, Deixe Ela Entrar, imagens cheias de significado, cortes precisos, um cuidado extremo com detalhes e um característico estímulo à liberdade do espectador em descobrir o que está acontecendo fortalecem a subjetividade da experiência e dão força ao longa que, por sua trama complexa e falta de ação, poderia não ser tão atraente assim.

Mais uma vez junto com Alfredson, o diretor de fotografia suíço Hoyte Van Hoytema (O Vencedor) consegue traduzir todo o suspense em imagens. Escuros, névoas, sombras e enquadramentos gelados criam o clima da trama eficientemente, sem falar na estética que beira a perfeição. E tudo fica mais fácil com o elenco de tirar o chapéu: Gary Oldman (O Profissional), afinal e merecidamente indicado ao Oscar; John Hurt (O Homem Elefante), Colin Firth (O Discurso do Rei), Mark Strong (Sherlock Holmes), Toby Jones (O Nevoeiro), David Dencik (Além do Desejo), Ciarán Hinds (Munique), Tom Hardy (Guerreiro) entre outros. Alguns, mais do que conhecidos,  não precisam de apresentações e, se já funcionam muito bem sozinhos, só por estarem reunidos fazem valer o ingresso.

Tecnicamente, ainda há que se destacar o trabalho sublime de reconstituição de época no desenho de produção de Maria Djurkovic (As Horas), na direção de arte de Tom Brown (O Resgate do Soldado Ryan) e Zsuzsa Kismarty-Lechner (Hellboy II – O Exército Dourado), sempre preocupados com detalhes e seguros no uso das cores, e nos figurinos de Jacqueline Durran (Desejo e Reparação). A montagem de Dino Jonsäter (Deixe Ela Entrar) e a discreta trilha sonora de Alberto Iglesias (Fale com Ela) acompanham o nível elevado do filme.

Como todo o resto, o roteiro assinado por Bridget O’Connor (66) e Peter Strughan (Os Homens Que Encaravam Cabras) é muito fiel ao romance de John le Carré e talvez por isso não seja uma unanimidade. O costume com histórias mais mastigadas e que exijam menos esforço do cinema da atualidade, principalmente no gênero suspense, é o principal culpado. Na contramão desse movimento, O Espião Que Sabia Demais é um poço de informações. Algumas passagens perdidas podem não ser mais recuperadas e talvez peçam uma revisita que, por incrível que pareça, vai ser mais interessante do que a primeira vez.

Um deleite para aqueles que gostam de histórias de espionagem, mas é bom lembrar que é um filme para se ver descansado, sem distrações e sabendo que a atenção na tela é fundamental. Entre pausas e conversas apressadas, com muita coisa acontecendo ao redor, um olhar significa muita coisa.

Um Grande Momento

A última ação de Prideaux.

Links

IMDb Site Oficial [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=rbgCk1E3mDE[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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