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Morro dos Prazeres

(Morro dos Prazeres, BRA, 2013)

Documentário
Direção: Maria Augusta Ramos
Roteiro: Maria Augusta Ramos
Duração: 90 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

A ideia inicial de Maria Augusta Ramos era fazer um documentário sobre a Bolsa Família, programa de transferência de renda do Governo Federal. O Morro dos Prazeres, comunidade localizada em Santa Tereza, no centro do Rio de Janeiro, foi o local escolhido como cenário. Antes do início das filmagens, porém, uma Unidade de Polícia Pacificadora foi instalada no local e levou a diretora a mudar o foco principal de seu filme.

Morro dos Prazeres tenta fazer um retrato da convivência entre os policiais da UPP e os moradores da comunidade. Ao mostrar as aspirações, crenças e sentimentos de ambos os lados, o que se percebe é um problema que ainda está muito longe de alguma solução, se é que ela existe. O pessimismo se confirma em uma série de abordagens policiais e a cada falta de crença na força estatal dentro da favela. Uma relação corrompida há muitos anos que precisa ser reconstruída desde o começo.

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Maria Augusta Ramos, como em seus outros filmes, é extremamente formal no modo de conduzir o documentário. Não há interferência de trilha sonora, não há encenação, não há segundo take. A criação se restringe à colagem de muitos recortes captados na construção de uma história única.

Bons personagens, como a ex-traficante, o capitão, o vendedor de livros ou o carteiro permitem uma história concisa, que consegue transmitir aos espectadores toda a ansiedade com as mudanças que ocorreram e podem vir a ocorrer na comunidade. São retratos humanizados, inclusive da própria polícia, um braço do poder estatal que nunca soube muito bem como se relacionar com a sociedade e se impôs pela força.

É como se Maria Augusta quisesse mostrar que esse é um primeiro passo. Que pode não dar certo, mas é preciso que se comece a tentar em algum momento. A quebra de estereótipos é um dos objetivos do filme. Falta a ambos os lados enxergar a humanidade do outro. A polícia precisa ver que nem todo morador de favela é bandido, assim como a comunidade precisa ver que nem todo policial é bandido. Paradigmas difíceis de se quebrar, mas Morro dos Prazeres tenta.

Um bom filme sobre uma nova realidade, as relações que ela está construindo e seu efeito na vida de várias pessoas. Mas anos de um sistema falível e corrupto demonstram que é difícil ter esperança de que bons resultados virão.

Um Grande Momento:
Mais de 30 anos como inimigos.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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