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Meu Rei

(Mon Roi, FRA, 2015)
Drama
Direção: Maïwenn
Elenco: Emmanuelle Bercot, Vincent Cassel, Louis Garrel, Isild Le Besco, Chrystèle Saint Louis Augustin, Patrick Raynal, Yann Goven
Roteiro: Etienne Comar, Maïwenn
Duração: 124 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

O amor é sofredor, tudo sofre, tudo crê, tudo suporta, tudo espera, diz a Bíblia. É assim que o mundo ocidental, principalmente de origem cristã, encara aquele complexo sentimento que une duas pessoas. Errada de origem, a descrição poderia se encaixar bem em uma patologia: a codependência, quando há uma relação emocional doentia de uma pessoa para seu parceiro. Não importa a gravidade do que aconteça, aquelas duas pessoas estão tão nocivamente dependentes uma da outra que não conseguem se separar.

Meu Rei, novo filme da diretora francesa Maïwenn (Polissia), traz esse amor doentio às telas. Pouco tempo depois de um começo apaixonado e intenso, Giorgio e Tony assumem uma vida a dois, que segue estabilizada por algum tempo, mas começa a perder o rumo a partir que um desejo do casal se concretiza.

Há no longa-metragem uma intensidade e uma verdade tão pertinentes que é impossível não se envolver com aquilo que é visto na tela. E a diretora Maïwenn trabalha o tema com propriedade, contando com a dupla de atores Vincent Cassel (Cisne Negro) e Emmanuelle Bercot (Clément) completamente absorta e entregue a seus papéis.

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Desde os primeiros momentos é possível perceber os problemas individuais de Giorgio e Tony, que vão transformando o casamento em um transtorno, com direito a agressões verbais, silêncios sufocantes e muitas pisadas de bola. Não é estranho sentir antipatia pelos dois em vários momentos, mas a identificação com situações acaba fazendo com que esse estranhamento não cause rupturas entre o espectador e o filme.

Meu Rei

A opção por mostrar a história tratando-a com o distanciamento que possibilita enxergar as motivações e a própria doença – já que no filme tudo que se vê são memórias da protagonista depois que ela é obrigada a passar um tempo isolada em uma clínica recuperando-se de uma lesão – é um dos pontos mais interessantes de Meu Rei.

Não há excessos visuais para enfeitar a rotina destrutiva do casal e nem amenizar situações constrangedoras, como a visita ao novo lugar de trabalho de Giorgio ou a chegada do oficial de justiça ao apartamento dos dois. Para amenizar a situação, o que existe são os momentos da nova Tony, que vai florescendo aos poucos na clínica de reabilitação.

Completando o elenco estão Louis Garrel (A Bela Junie) e Isild Le Besco (Uma Nova Amiga), como irmão e cunhada de Tony, e testemunhas da “história de amor” desde seu começo. Como pessoas satélites, eles apenas tentam interferir na realidade, mas não têm espaço para isso.

Sem vilões, mas apenas seres humanos, Meu Rei trata de obsessão e daquela crença de que uma pessoa só está completa quando tem alguém ao seu lado. A falsa ideia de que um ser pode anular-se para melhorar a vida de outro, sempre presente em relações codependentes, dá o tom daquele relacionamento e de tantos outros que existem por aí, às vezes, até dentro da própria casa.

E não é algo simples de se romper, como Maïwenn faz questão de mostrar na sequência final do filme, que deixa quem o assiste desolado.

Um Grande Momento:
A sequência final.

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Links

IMDb [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=AuLfb_fpgrg[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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