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Lá vem o Oscar

Está chegando o dia da mais famosa festa do cinema. Ainda que a qualidade artística costume se perder entre um lobby e outro, e interesses pouco relacionados à sétima arte pesem mais do que deveriam, sempre fica aquela curiosidade para saber de quem serão as estatuetas douradas tão conhecidas.

Os vencedores serão anunciados amanhã, 26, a partir das  21h30. O canal do Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood, www.oscar.com, transmitirá o evento pela internet. No Brasil, a cerimônia será transmitida pela TV Globo, mas não desde o princípio. TVs pagas também apresentam a chegada dos astros no tapete vermelho (E!) e um pré-show seguido da premiação completa (TNT).

Quem está no páreo principal

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Diferente do ano anterior, que só Cisne Negro me chamava realmente a atenção, A Academia conseguiu incluir na lista de melhor filme vários títulos que assisti com mais simpatia durante o ano de 2011 e nesse comecinho de 2012.

Num ano cheio de nostalgia, o vencedor deve sair de uma briga entre duas homenagens ao cinema: o francês, mudo e em preto e braco, O Artista, de Michel Hazanavicious, e o americano A Invenção de Hugo Cabret, cheio de efeitos e sabendo usar a tecnologia 3D, de Martin Scorsese.

Os dois filmes são deliciosas demonstrações de amor à sétima arte. Enquanto o primeiro aposta na simplicidade e homenagens literais à primeira grande mudança tecnológica do cinema, o segundo sabe brincar com a magia do cinema e, para isso, aproveita-se da grande revolução visual que está acontecendo hoje em dia.

Apesar de gostar muito dos dois filmes, se eu fosse a Academia, meu Oscar iria certamente para as mãos de um baixinho maluco que gosta de brincar com as palavras e expor os sentimentos comuns a todos. Meia-Noite em Paris ainda é o melhor filme para mim. O mais bem distribuído, equilibrado, original e mais encantador. Mas, ao que tudo indica, está fora da disputa.

Outro que chega forte é Árvore da Vida, de Terrence Mallick, ganhador de Cannes este ano. Apesar de todas as suas qualidades, é um filme que não é tão popular e não faz, nem de longe, o estilo da Academia.

Correndo por fora estão Os Descendentes, premiado com o Globo de Ouro de Melhor Filme Drama, e Histórias Cruzadas, que levou o SAG de Melhor Elenco pelo Sindicato dos Atores de Hollywood. Não são filmes que me agradam muito, o primeiro é até melhor executado, mas tem muitas deficiências, como a insistente narração em off ou justificativas de roteiro dispensáveis. Histórias Cruzadas é interessante como instrumento de análise do preconceito, mas se perde em clichês e estereótipos e fraqueja quando deve tomar uma posição.

Completam a lista os bons O Homem Que Mudou o Jogo, um filme bem interessante sobre beisebol, e Tão Forte, Tão Perto, sobre um menino tentando se recuperar da perda do pai nos ataques de 11 de setembro. Também tem espaço na lista para o fraco e meloso Cavalo de Guerra, filme de Steven Spielberg sobre o uso de cavalos durante a I Guerra Mundial. Na minha lista, ele daria lugar à animação com captura de movimentos As Aventuras de Tintim, do mesmo diretor.

O Espião Que Sabia Demais é outro que também entraria na minha lista, apesar de. com seu ritmo lento e trama complexa, não ter agradado muito por aí foi um dos meus filmes favoritos do ano.

Melhor ator

A escolha mais difícil de todas as categorias, sem dúvida nenhuma, é a de melhor ator. Ainda que em filmes não perfeitos, as atuações de todos os cinco indicados são merecedoras de todos os elogios e de ter seus trabalhos reconhecidos.

O favorito absoluto é o francês Jean Dujardin, que vive, no filme O Artista, George Valentin, um astro do cinema mudo que não consegue se adaptar ao recém chegado cinema falado. Seria uma vitória justa! Até porque este ano, o destaque foi ele mesmo, motivo pelo qual levou quase todos os prêmios, de Cannes ao Globo de Ouro.

Juntos com Dujardin estão os bonitões George Clooney, na talvez melhor atuação de sua carreira, no filme Os Descendentes, e Brad Pitt, muito bem como o gerente de um time de beisebol em O Homem Que Mudou o Jogo. Clooney, que geralmente não se esforça muito, está fantástico como o pai de família perdido e Pitt reafirma toda sua qualidade, mas talvez tenha sido indicado pelo filme errado, já que está ainda melhor em Árvore da Vida.

O inglês Gary Oldman, vivendo um soturno e desconfiado espião britânico, e o mexicano Demián Bichir, um imigrante mexicano ilegal, completam o time dos indicados com suas participações em O Espião Que Sabia Demais e Uma Vida Melhor, respectivamente.

Melhor Atriz

Se o Oscar de melhor ator parece já estar definido, o mesmo também pode ser dito das atuações femininas. As cinco indicadas estão muito bem nos papéis, mas ninguém consegue chegar nem perto do que Meryl Streep faz em A Dama de Ferro.

Rooney Mara, completamente transformada com sua Lizbeth Salander (Millennium – Os Homens Que Não Amavam as Mulheres); Glenn Close, como a mulher que viveu como homem a vida inteira (Albert Nobbs), e Viola Davis, mantendo a competência habitual com a doméstica que resolve revelar o que passa na casa das patroas (Histórias Cruzadas), estão merecidamente onde deveriam estar.

A quinta vaga ficou com Michelle Williams, que é uma fofa e até está bem no papel de Marilyn Monroe em Minha Semana com Marilyn, mas parece que a indicação veio mais pelos 50 anos de morte daquele ícone do cinema do que pelo trabalho de Williams mesmo. Ainda mais no ano em que Tilda Swinton fez o que fez em Precisamos Falar Sobre Kevin.

O maestro da vez

Outro páreo duríssimo é o de direção: Woody Allen e Martin Scorsese lideram a corrida e é mais possível que este último leve a estatueta pra casa, considerando-se tanto a qualidade de sua fábula Hugo como a rixa ancestral entre Allen, o meu escolhido, e a Academia. Corre por fora, mas de perto, Michel Hazanavicious com o seu O Artista.

Alexander Payne e Terrence Malick completam a lista de indicados Ambos fazem excelentes trabalhos, mas em um ano como este, é bem impossível que cheguem lá. Também gosto da direção de Thomas Alfredson em O Espião Que Sabia Demais mas, se nem quem já está na pista tem muita chance, imagine os esquecidos.

Agora falando textualmente

Em roteiro, a briga também não deve mudar muito: Meia-Noite em Paris, de Allen, e O Artista, de Hazanavicious, são fortíssimos candidatos à estatueta de melhor roteiro original. Mas apareceu um A Separação, de Farhadi, na mesma categoria. Não seria de se estranhar que o filme que levou para o Irã quase todos os prêmios de melhor filme em língua estrangeira chegasse na frente dos dois.

A comédia feminina do ano, Missão Madrinha de Casamento, de Kristen Wiig e Annie Mumolo, e o complicado mas interessantíssimo Margin Call – O Dia Antes do Fim, de J. C. Chandor, completam a lista de histórias escritas diretamente para o cinema, mas sem nenhuma chance de ganhar.

Em roteiro adaptado não há surpresa nenhuma: A Invenção de Hugo Cabret, de John Logan, é o possível vencedor entre os cinco indicados e seria a minha escolha também. Mas O Homem Que Mudou o Jogo (Steven Zaillian, Aaron Sorkin e Stan Chervin), O Espião Que Sabia de Mais (Bridget O’Connor e Peter Straughan), e Tudo Pelo Poder (George Clooney, Grant Heslov e Beau Willimon) mereceriam também. Só quem parece estar sobrando na lista é Os Descendentes, de Alexander Payne, Nat Faxon e Jim Rash.

Mais estatuetas

Ao que tudo indica o resultado nas categorias de melhores ator e atriz coadjuvantes também não vai surpreender. Christopher Plummer deve levar pelo septuagenário recém saído do armário de Toda Forma de Amor e Octavia Spencer, pela divertida empregada de Histórias Cruzadas. Acho que também daria para ela, ou para Jessica Chastain, que está no mesmo filme, mas quem ganharia o de ator coadjuvante, se eu fosse a Academia, seria Max von Sydow, o avô de Tão Forte, Tão Perto.

Em um ano de homenagens aos cinema, é quase impossível que Rango não ganhe por animação e é mesmo o melhor entre os cinco indicados. Outra certeza da noite é a premiação de A Separação, que não homenageia o cinema, mas é um retrato tão eficiente do que é ser humano que é difícil não se render a ele mesmo.

E estas seriam as principais categorias da noite, mas existem muitas outras ainda. Os resultados e a conferência dos palpites em mais de um bolão, acontecem só amanhã. O Cenas de Cinema transmite toda a festa ao vivo, desde o tapete vermelho até o anúncio do último vencedor da noite.

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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