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Ilha do Medo

(Shutter Island, EUA, 2010)

Envolver o público nunca foi um problema para Martin Scorsese. Claro que algumas escorregadas aconteceram no meio do caminho mas, de maneira geral, sua filmografia demonstra bem que ficar alheio não é uma tarefa muito fácil para quem assiste aos filmes do diretor.

Em Ilha do Medo somos jogados dentro de uma confusa trilha e, de certo modo, tentamos achar os caminhos para entender tudo que estamos vendo. Com todas as boas características dos filmes noir, Scorsese consegue manter uma tensão que não cede nunca e dá o esperado tom sufocante à história, adaptada do livro “Paciente 67”, de Dennis Leahane, o escritor de “Sobre Meninos e Lobos”.

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Em meio à guerra fria, o oficial do FBI Teddy Daniels é enviado à uma ilha, onde funciona uma instituição correcional psiquiátrica. Junto com seu novo parceiro, Chuck Aule, ele deve descobrir onde foi parar uma das prisioneiras/pacientes que sumiu de seu quarto, extremamente vigiado, sem deixar vestigios.

Durante a investigação, Daniels descobre que tudo parece ser muito diferente do que parece, principalmente pelas perceptíveis atuações e a presença, sempre inusitada e vacilante dos médicos responsáveis pela instituição.

Desde os créditos iniciais somos preparados para um mundo que não vai fazer muito sentido e, por isso mesmo, vai nos manter grudados na tela até o fim da projeção. São as nuances psicológicas captadas pelo diretor de fotografia Robert Richardson, a trilha sonora nem sempre presente e as atuações maduras e competentes elementos que fazem do todo uma viagem inesquecível entre as muitas camadas do filme.

Ainda que a atmosfera seja diferente, e que os mafiosos não estejam exatamente delimitados, é inegável que a película é uma obra de Scorsese. Ainda que não correlacionem de primeiro com seus temas, não existe ninguém que trabalhe a pertrubação interna de cada um como o diretor. São incertezas e confusões tão reais que quase se tornam palpáveis.

O modo de lidar com o suspense também merece elogios. Os muitos novos acontecimentos e a aura irreal poderiam dificultar o processo, mas em Ilha do Medo acabam funcionando.

Se o conjunto da obra funciona, muito é também pela qualidade do elenco escolhido. Também não fica difícil com tanta gente boa trabalhando no mesmo projeto. Leonardo DiCaprio parece ter alcançado finalmente sua maturidade e consegue transitar bem entre todas as fases psicológicas de seu detetive.

A dobradinha Ben Kingsley e Max von Sydow como os médicos responsáveis pela instituição dispensa comentários. Assim como as participações de Emily Mortimer, Patricia Clarkson, Mark Ruffalo e o sempre excelente Jackie Earle Haley. Talvez só mesmo Michelle Williams não acompanhe o resto do elenco, mas também não compromete.

Então não há o que falar do filme se tudo é perfeito, a atmosfera funciona e a curiosidade instiga o tempo todo seus espectadores, não é? Não. Embora tenha mesmo tudo no lugar e provoque até o final, Scorsese não consegue superar os últimos minutos de filme.

Poucos minutos acabam fazendo a diferença e comprometem muito o resultado. Ao tomar do espectador a possibilidade de compreender como quer a sua história, o diretor deixa tudo um pouco menos interessante e explica demais o que nunca precisou ser explicado.

É claro que o filme tem um potencial inacreditável e promete arrebatar muitos fãs e muitos desafetos pelo caminho. Já dá para antecipar a admiração pelo retorno ao bom e instigante cinema noir e a raiva pela falta de “verdade” nos acontecimentos, entre outros sentimentos e motivações.

E merece ser visto, sem dúvida nenhuma. Por ser um excelente filme, por ser extremamente bem realizado, por trazer de volta um estilo de suspense que deveria sempre ser perseguido e por, principalmente, ser uma excelente diversão para todos aqueles que o assistem.

Em outras palavras, Scorsese chegou lá mais uma vez. E fez bonito!

Um Grande Momento

Gosto de muitos momentos, mas o trajeto até a ilha é muito bom.

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Suspense
Direção:  Martin Scorsese
Elenco:  Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Max von Sydow, Michelle Williams, Emily Mortimer, Patricia Clarkson, Jackie Earle Haley, John Carroll Lynch
Roteiro:  Dennis Lehane (romance), Laeta Kalogridis
Duração: 138 min.
Minha nota: 7/10

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
6 Comentários
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Farlley Gomes
Farlley Gomes
15/08/2010 23:16

muuuuiiito bom o filme!!!
aliás o Di Cáprio soh tah fazendo filme bom…

Fernando
Fernando
19/03/2010 14:30

Definitivamente não dá pra ficar indiferente a Scorsese em Ilha do Medo, eu sou da turma que ADOROU o filme e ficou querendo discutir o filme depois da sessão ;-)

Mayara Bastos
Mayara Bastos
16/03/2010 20:41

Só de ser do Scorsese já valia uma olhada, mas agora fiquei bem mais animada para uma sessão…

Beijos! ;)

it was RED - Para quem gosta de cinema
it was RED - Para quem gosta de cinema
12/03/2010 13:40

O Scorsese contemporâneo não me agrada muito, mas teu texto mostra o contrário da imagem que tenho dos últimos trabalhos do diretor. Teus elogios ao filme e a presença de Max von Sydow me instigaram a ver o filme.

Robson Saldanha
Robson Saldanha
12/03/2010 10:53

Eu curto muito Scorcese e gosto de seu trabalho com Dicaprio. Espero bastante desse filme!

Vinícius P.
Vinícius P.
12/03/2010 01:16

Parece que é outro belo trabalho do diretor, ainda que não tenha recebido tantos elogios quanto o esperado. Seria mais ou menos o que "Dália Negra" foi pra carreira do De Palma?

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