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Hoje eu Quero Voltar Sozinho

(Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, BRA, 2014)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Daniel Ribeiro
  • Roteiro: Daniel Ribeiro
  • Elenco: Ghilherme Lobo, Fabio Audi, Tess Amorim, Selma Egrei, Eucir de Souza, Isabela Guasco, Júlio Machado
  • Duração: 95 minutos

A adolescência e a descoberta da sexualidade são temas comuns no cinema. Tantos filmes criaram uma espécie de gênero, cheios de clichês e apelações conhecidas. Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é mais um filme sobre esta fase da vida, porém, o diretor Daniel Ribeiro consegue se diferenciar, criando uma história simples e sensível sem precisar usar os clichês ou ser piegas.

A trama gira em torno de Leonardo, um jovem deficiente visual superprotegido pelos pais, e que passa os dias ao lado da sua melhor amiga Giovanna. Incomodado com o excesso de preocupação dos pais e o bullying de alguns colegas da escola, Leonardo começa a pensar em fazer intercâmbio. A chegada de Gabriel, um novo aluno de sua classe, muda as coisas.

Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é o primeiro longa-metragem do diretor Daniel Ribeiro. O roteiro, também escrito por ele, é inspirado em seu curta homônimo, que conta a história destes mesmos adolescentes.

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Difícil dizer o que funciona melhor, se o entrosamento entre o trio formado pelos atores Fabio Audi, Ghilherme Lobo e Tess Amorim ou o seu roteiro muito bem escrito e amarrado. Daniel Ribeiro em nenhum momento deixa a leveza do filme se perder, mesmo ao tocar em assuntos complexos, como viver em uma sociedade despreparada para lidar com as diferenças.

Por mais que haja algum avanço, qualquer diferença, seja a deficiência visual ou a própria orientação sexual, pode ser encarada como algo antinatural e gerar situações de preconceito. O diretor prefere não levantar bandeiras e mostra que a atração entre Léo e Gabriel é uma situação orgânica, natural. Apaixonar-se pela primeira vez é um marco na vida de qualquer adolescente.

Hoje Eu Quero Voltar Sozinho

Além disto, a impossibilidade de Léo de enxergar desde que nasceu é uma sacada inteligente do roteiro, pois reforça a ideia de que o importante é aquilo que a pessoa tem que nos toca. Os sentimentos não “enxergam” como é o outro, mas quem é o outro.

É isto o que mais encanta no filme, como os sentimentos são retratados. O passo a passo deste despertar, os encontros para fazer o trabalho de escola, as conversas banais, os ciúmes e o desejo são mostrados com tamanha simplicidade e veracidade que quem está assistindo consegue facilmente se identificar com aquelas situações.

Além do ótimo roteiro, o trabalho dos atores também se destaca. O trio de adolescentes parece estar mais à vontade em seus papéis hoje, apesar da maior responsabilidade, do que na época do curta-metragem. Ghilherme Lobo mostra talento ao interpretar um garoto cego que se sente deslocado, sem estereotipar o personagem. Tess Amorim atua bem como a amiga que começa a sentir ciúmes e se sente escanteada após a entrada de Gabriel na vida de Leonardo. Por fim, Fabio Audi se sobressai na trama com o seu personagem Gabriel, que também não precisa apelar para trejeitos para transmitir os seus sentimentos.

Some-se a tudo isto uma boa fotografia e uma ótima trilha sonora e temos um dos melhores filmes já lançados do mercado nacional dos últimos anos.

Sensível e delicado, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é daquelas histórias que nos parece familiar. Um filme sobre a atração entre dois garotos, mas, muito além disso, uma deliciosa história sobre o primeiro amor.

Um Grande Momento:
Usando o moleton.

Mila Ramos

“Soteropaulistana”, publicitária, amante das artes, tecnologia e sorvete de chocolate. O amor pela Sétima Arte nasceu ainda criança, quando o seu pai a convidava para assistir ao Corujão nas noites insones. Apaixona-se todos os dias e acredita que o cinema é capaz de nos transportar a lugares nunca antes visitados. Escreve também no Cartões de viagens imaginárias.
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