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Deserto

(Deserto, BRA, 2016)
Drama
Direção: Guilherme Weber
Elenco: Lima Duarte, Cida Moreira, Everaldo Pontes, Marcio Rosario, Magali Biff, Pietra Pan, Claudinho Castro
Roteiro: Guilherme Weber, Ana Paula Maia
Duração: 100 min.
Nota: 5 ★★★★★☆☆☆☆☆

O teatro costuma estar sempre muito presente no cinema. Embora sejam duas linguagens muito diversas, que se utilizam de métodos diferentes para construção e buscam respostas diferentes do público, vez por outra vemos o palco invadindo as telas.

É o que acontece com Deserto, primeiro longa-metragem dirigido pelo ator Guilherme Weber. O filme conta a história de uma trupe de teatro que passa de vilarejo em vilarejo fazendo espetáculos, chega a uma pequena cidade abandonada e lá resolve se instalar, criando uma nova sociedade.

Com papéis determinados, eles acabam reproduzindo as mesmas mazelas da sociedade que hoje conhecemos, como se a maldade e a crueldade fossem tão intrínsecas à espécie, que não desapareceriam criando-se uma nova sociedade do zero. Thomas Hobbes e Leviatã estão mais vivos e presentes do que nunca no filme.

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Com um elenco de primeira grandeza, com nomes como Lima Duarte, Cida Campos, Everaldo Pontes e Magali Biff, reconhecida atriz teatral em sua primeira experiência no cinema, Deserto tinha tudo para uma boa miscigenação entre a linguagem cinematográfica e a linguagem teatral, mas acaba não chegando lá.

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O texto desconexo, pouco atraente e, muitas vezes, com cara de colagem, só conta com alguns bons momentos, como o monólogo de Dom Aleixo ao passar a primeira noite na cidade.

Há ainda um exagero na vontade de chocar, como se houvesse um certo sadismo do outro lado da câmera ao demonstrar a podridão da sociedade em cenas muito longas e que já tinham seu impacto sem a prolongação desnecessária.

Se há problemas de roteiro e na concepção das cenas, o mesmo não pode ser dito do impressionante trabalho de direção de arte, cenografia, figurino e fotografia, assinados respectivamente por Renata Pinheiro, Karen Araújo, Kika Lopes e Rui Poças. Usando a cor como determinação para a desumanização e o ambiente inóspito, Deserto impressiona a cada quadro.

Como em todo primeiro filme, há muita coisa a ser melhorada, muita coisa que precisa de mais atenção e uma noção melhor da linguagem cinematográfica. Mas tem seus momentos.

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Um Grande Momento:
O porco.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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