Crítica | Streaming e VoDMostra de Tiradentes

Clarisse ou Alguma Coisa sobre Nós Dois

(Clarisse ou Alguma Coisa sobre Nós Dois, BRA, 2015)

Suspense
Direção: Petrus Cariry
Elenco: Sabrina Greve, Everaldo Pontes, Veronica Cavalcanti, David Wendefilm
Roteiro: Rosemberg Cariry, Petrus Cariry, Firmino Holanda
Duração: 84 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

Um trauma de família e o sempre comum desprezo pela mulher se unem no novo filme de Petrus Cariry (Mãe e Filha), Clarisse ou Alguma Coisa sobre Nós Dois, que claramente escolhe o adequado tom do suspense para narrar a história de Clarisse. Insatisfeita com o casamento e desprezada pelo pai, ela precisa voltar ao passado para continuar seguindo em frente.

A primeira cena de sexo, que percorre os corpos de Clarisse e seu marido de maneira lenta e observadora, começa a criar a tensão que Petrus consegue segurar por quase toda a duração do filme, apesar de algumas escorregadas aqui e ali e uma certa insegurança, que aparece na trilha sonora, por exemplo, logo no primeiro uso de música mais grave. Ali, esse clichê do gênero vem distrair o clima pesado criado pelo silêncio das cenas anteriores.

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A trama elaborada é interessante e faz da suspensão seu maior trunfo, mas também carece de uma certa confiança naquilo que está sendo contado. Petrus já contou sua história de maneira sutil e impactante, mas acha que precisa de um elemento mágico para explicar qualquer dúvida que tenha surgido no meio do caminho. O objeto que aparece em cena, sem muito sentido, é o problema mais grave.

Mas ainda assim é uma história interessante, bem encenada e que conta com boas atuações do trio principal, composto por Sabrina Greve (Todas as Cores da Noite) como Clarisse, Everaldo Pontes (Siri-Ará) como o pai e Veronica Cavalcanti (Cinema, Aspirinas e Urubus) como Caetana, a antiga empregada da casa.

Ao assumir o gênero do suspense, Petrus não se furta a homenagear grandes clássicos do gênero, como Psicose, de Alfred Hitchcock, ou O Iluminado, de Stanley Kubrick. Outra presença estética forte no longa-metragem é a da obra de seu pai, Rosemberg Cariry, que assina o roteiro do longa ao lado do filho e de Firmino Holanda, em um misto de influência e homenagem, mas que, nesse caso, pouco se comunica com o filme. Cenas mais exageradas de declaração e de prolongamento invertem a dedicação do espectador.

Mesmo com problemas no meio do caminho, Clarisse ou Alguma Coisa entre Nós Dois tem bons momentos, com competentes cenas de um filme de suspense sobrenatural e psicológico, onde reflexos e afins causam o medo esperado no espectador. Além de ter a boa intenção de falar sobre um problema que se tornou pauta do momento e que pode ser muito facilmente identificado no nosso país.

Mas é preciso falar que se excede em cenas específicas, onde a protagonista busca o prazer, e, mesmo que se acredite na vontade do diretor de dar a isso um sentido de libertação, o que passa, pelo menos para as mulheres, é a dor e o desespero, impressão errônea e que pode ser bastante problemática.

Clarisse ou Alguma Coisa sobre Nós Dois podia ser muito melhor do que é, mas está muito longe de ser um filme ruim. Amantes do gênero devem gostar.

Um Grande Momento:
Reflexo na janela.

[19ª Mostra de Tiradentes]

Clarisse_poster

Links

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=RghtfAmeDpE[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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