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Campo Grande

(Campo Grande, BRA, 2015)
Drama
Direção: Sandra Kogut
Direção: Carla Ribas, Ygor Manoel, Rayane do Amaral, Julia Bernat
Roteiro: Sandra Kogut, Felipe Sholl
Duração: 108 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

O que fazer quando duas crianças pequenas são encontradas na frente de um prédio com um papel com o seu nome e endereço nele? Essa é a premissa de Campo Grande, novo longa-metragem de ficção de Sandra Kogut (Mutum). Regina é a dona do apartamento em Ipanema onde as crianças são deixadas. Quem chega primeiro é a calada e silenciosa Rayane, de apenas 6 anos de idade. Logo depois, seu irmão mais velho, Ygor, com apenas 8 anos, aparece.

Sem saber o que fazer com aquela situação Regina tenta descobrir porque os meninos têm o seu nome e endereço e porque a mãe os deixara ali. Aconselhada pela filha adolescente, que está de mudança para a casa do pai depois da separação dos dois, ela deixa os meninos passarem a noite no apartamento.

O espaço e sua constante transformação estão muito presentes no filme, assim como o estranhamento, a inadequação e os conflitos imanentes a ele. Seja na cidade do Rio de Janeiro, que parece circundar uma obra sem fim, ou no espaçoso apartamento de Regina, onde a mobília e as memórias vão pouco a pouco sendo encaixotadas. O que era concreto, equilibrado, vai perdendo a segurança e causa o estranhamento.

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O vagar dos personagens entre esses espaços destruídos ou vazios, por eles desconhecidos ou perdidos, dá ao filme uma melancolia e uma angústia que fazem com que os olhos do espectador não desgrudem da tela por um momento. Sensações ruins também vêm com uma sempre presente tensão social e a invisibilidade das classes mais baixas.

Kogut escolhe a observação dos fatos para contar a sua história. O filme conta com um excelente trabalho de Ivo Lopes Araújo (Tatuagem) na direção de fotografia e deixa de lado malabarismos estéticos para dar ao resultado o realismo buscado pela diretora desde o roteiro.

O modo como a história se desenvolve, como relações se estabelecem e se discutem, é bastante natural, e essa proximidade com o real faz com que a empatia com o público se reforce ainda mais. Por mais que não se concorde com algumas atitudes e reações, e por mais que se espere outras posturas, o julgamento é deixado de lado.

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Impossível falar de Campo Grande – nome de um bairro na Zona Oeste do Rio – e não falar das atuações. Carla Ribas, que já tinha impressionado em A Casa de Alice, dá a sua Regina muita consistência e veracidade. Aquela mulher, devastada pela mudança da vida e pela partida da filha, simplesmente não sabe o que fazer com a situação que se apresenta, mas acaba envolvida por ela. É nos pequenos gestos, nos olhares e na postura contida que ela se conecta com o público.

Mas quem rouba mesmo a cena são as duas crianças, em especial Ygor Manoel. Para uma história tão realista e tão focada no mais velho dos dois meninos abandonados, que é dono de cenas inteiras, a atuação de crianças é sempre um ponto delicado. Mas, com a preparação de Fátima Toledo, a resposta dele e da menina, ainda mais nova, é impressionante.

Com tudo muito bem encaminhado, um andamento bem estabelecido – que pode parecer lento para alguns – e o envolvimento concretizado, Campo Grande percorre bem seus mais de 100 minutos de duração. Porém, não consegue resistir até o final e insiste, mesmo sem ser explícito, na explicação em seu desfecho. Nada que comprometa, mas terminaria melhor sem.

Um Grande Momento:
No estacionamento em Campo Grande.

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Links

IMDb
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=DLfR-0NENK4[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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