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Blackfish – Fúria Animal

(Blackfish, EUA, 2012)

Documentário
Direção: Gabriela Cowperthwaite
Roteiro: Gabriela Cowperthwaite, Elis Despres
Duração: 82 min.
Nota: 4 ★★★★☆☆☆☆☆☆

Um documentário sobre a captura de orcas filhotes e sua manutenção em cativeiro seria naturalmente interessante. Quando uma desses animais ataca várias pessoas e leva três delas – duas adestradoras e um andarilho – a morte, o tema ganha ainda mais força e a ideia de Gabriela Cowperthwaite em transformar a história em um longa-metragem se justifica prontamente.

O personagem central do documentário é Tilikun. Capturada e comprada por um parque aquático decadente do pacífico, a orca macho foi vendida ao Sea World depois que sua treinadora morreu durante uma apresentação. No novo parque, causou a morte, em fevereiro de 2010, de Dawn Brancheau e foi parar nos noticiários mundiais.

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O filme faz uma retrospectiva do problema da presença de animais marinhos selvagens nos parques aquáticos. Entre depoimentos de ex-treinadores do parque da Disney, especialistas em vida marinha e parentes das vítimas, Blackfish – Fúria Animal compila diversas especificidades das orcas, como a capacidade de agrupamento social e a linguística complexa; cita os mitos que envolvem o mamífero aquático, erroneamente chamado de “baleia assassina”, mesmo não sendo uma baleia e nem atacar humanos em seu habitat natural, e denuncia os absurdos cometidos em sua captura e manutenção em cativeiro.

Mesmo que o material sirva ao propósito, o filme tem vários problemas técnicos que não podem ser minimizados pela força da mensagem. O primeiro é a má distribuição das entrevistas. Ao tentar apelar sempre para o emocional, com várias falas dos adestradores, questões importantes sobre a determinação do objeto perdem o valor. Há uma estatística técnica citada por um dos especialistas, por exemplo, fundamental para determinar que o instinto assassino nasce com a intervenção humana, mas que acaba minimizada por declarações mais sentimentais. Outro erro na escolha dos depoimentos que entraram na montagem final é a falta de cuidado com as informações. Há muita repetição e superficialidade.

Tropeçando nas más escolhas, o longa cai de vez quando resolve mostrar a morte de um adestrador no Loro Parque, em Tenerife, um dos territórios espanhóis na costa africana, causada por uma das baleias recém transferidas do Sea World. Ainda que o episódio seja fundamental para o entendimento do sentimento materno das orcas, a escolha de familiares do adestrador para os depoimentos e uma estética completamente diferente do resto do documentário comprometem.

Com vários problemas técnicos e carecendo de alguma cinematografia em sua concepção e construção, Blackfish – Fúria Animal passa uma mensagem relevante e choca. Principalmente quando sabemos que as coisas continuam acontecendo. As orcas continuam sendo maltratadas, os parques ainda existem, milhares de pessoas pagam ingressos diariamente para ver as apresentações e Tilikun ainda é uma das principais estrelas do show.

Um Grande Momento:
O depoimento do caçador de orcas.

Blackfish-Furia-Animal_poster

Links

IMDb Site Oficial [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=G93beiYiE74[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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