Crítica | FestivalMix Brasil

A Volta da Pauliceia Desvairada

(A Volta da Pauliceia Desvairada, BRA, 2012)

Documentário
Direção: Lufe Steffen
Duração: 95 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

Em 1922, um ousado escritor alterou o modo com que se via a poesia no Brasil ao publicar seu mais novo livro. O escritor era Mário de Andrade e o livro era Pauliceia Desvairada, com poesias modernas e diferentes que falavam sobre São Paulo, a mais cosmopolita de todas as cidades brasileiras, e sobre as muitas variedades de tribos que a habitavam à época. 90 anos depois, Lufe Steffen tenta voltar à metodologia do poeta modernista para compor o seu próprio mosaico da noite gay paulistana.

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Na abertura um aviso – a cidade muda e tudo o que está sendo visto se refere àquele momento, podendo ser completamente diferente no futuro. Com a presença de figuras ilustres da noite paulistana, depoimentos interessantes colhidos em mais de 50 casas e festas tradicionais da cidade e  uma agitação noturna que transborda da tela, o documentário consegue criar um vínculo com o espectador.

Entre ferveções aleatórias de uma das noites mais agitadas do mundo, misturando discursos mais politizados a conversas despretensiosas, estão os mais variados personagens: o novinho, o fashion, a intelectualoide, o experiente, o bêbado, o playbozinho, a descolada. Eles explicitam seus desejos, convicções, angústias e manias. Falam de preconceito, de hábitos comuns, daquela eterna vontade de encontrar alguém com quem dividir a vida, da vontade de chamar atenção, da conectividade exacerbada, das alterações alcoólicas e da questão do envelhecimento, quando não se aceita algo que é novo e veio substituir o antigo.

A montagem fragmentada e alguns discursos propositalmente repetitivos fazem com que o filme pareça-se mesmo com uma balada. Uma certa informalidade faz com que o público comporte-se de maneira diferente, mais entregue e descompromissado. Mas isso só funciona até certo ponto. Quando o assunto na tela fica mais sério, quando finalmente o preconceito entra em debate, a quebra de ritmo compromete. Assim como outras pequenas coisas, como um desequilíbrio entre as exposições das noites gays masculina e feminina e uma minúscula participação de personagens negros, ainda mais percebida por eles serem sempre citados.

Apesar disso, não faltam bons momentos, como a comparação da noite na época da ditadura com a de hoje em dia, a percepção dos isolamento dos guetos e a incorporação do dicionário pajubá, além de figuras interessantíssimas e depoimentos deliciosos. Uma experiência, no mínimo, divertida.

Um Grande Momento

A noção da receptividade de São Paulo que te acolhe e te abraça, quando gosta de você, mas, se não, te manda embora.

Links

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=kkDENTlfCR0[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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