Crítica | Streaming e VoDMostra SP

A Pele que Habito

(La piel que habito, ESP, 2010)

Suspense
Direção: Pedro Almodóvar
Elenco: Antonio Banderas, Elena Anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet, Roberto Álamo, Eduard Fernández, José Luis Gómez, Blanca Suárez
Roteiro: Pedro Almodóvar, Thierry Jonquet (roteiro)
Duração: 117 min.
Nota: 8 ★★★★★★★★☆☆

Quem está acostumado a acompanhar a filmografia Pedro Almodóvar pode estranhar A Pele em que Habito. Diferente de tudo que o diretor espanhol já fez, começando por ser uma adaptação livre de um romance, Tarântula de Thierry Jonquet, e terminando pelo ambiente frio e canastro dos antigos thrillers, o filme é uma mescla de George Franju, Alfred Hitchcock e Dario Argento, mas com toques almodovarianos inconfudíveis, como o melodrama, o humor e a eterna questão da identidade sexual.

Robert é um cirurgião renomado que opera seus pacientes numa clínica que mantém dentro de sua casa e onde, como cientista maluco, tenta encontrar um tipo de pele resistente ao fogo após um acidente de carro deixar sua mulher completamente queimada. Em sua casa moram também uma bela mulher, que serve de cobaia para seus experimentos e a história o público desconhece, e uma governanta que o trata como filho. Mas é melhor não falar muito, para não estragar o filme, que é cheio de surpresas e reviravoltas.

Apoie o Cenas

Diferente do habitual imediatismo, onde a situação é dada e aos poucos gera consequências, A Pele que Habito vai sendo digerida aos poucos, muito antes da explicitação de sua história, na segunda metade do filme, e ainda assim flui de forma muito natural para quem a assiste.

Muito pelas atuações, todas precisas, mas principalmente pela tensão gerada com as cenas de desespero, de cativeiro e por presenças sempre mais inesperadas do que poderiam ser. A falta de explicações força o público a construir hipóteses e talvez aí esteja o ponto fraco do filme, quando a solução é prevista antes do esclarecimento por flashback e sonhos. Mas como todo bom Almodóvar, tudo é muito mais profundo e tem outros significados, deixando a previsibilidade em segundo plano e prendendo o público até os últimos momentos da trama.

Esteticamente bem construído, com uma contraposição interessante entre as cores de Antxón Gomez (Tudo Sobre Minha Mãe) e a neutralidade sépia de Carlos Bodelón (Lope), desenhista de produção e diretor de arte, respectivamente, é pelo visual do filme, logo nas primeiras cenas, que se começa a perceber que estamos diante de um filme de reinvenção. Com a auto-permissão, o diretor reconstrói aquilo que se sabe dele e o identifica e se coloca no papel de Robert ao pegar uma criatura e transformá-la em outra. E a presença de Antonio Banderas, antigo parceiro e agora de volta aos bons papéis e com uma atuação digna de sua qualidade interpretativa, é fundamental para isso.

O trabalho preciso de Almodóvar, na construção dessa atmosfera de suspense/terror, é igual ao de seu personagem cirurgião. Como se cada cena, cada plano e cada detalhe do roteiro fosse construir aquilo que o protagonista perseguia: a criatura que não pode ser destruída nem pelo mais severo observador. Se o intento é alcançado é outra história e só depois de ver o filme você vai poder dizer.

Um Grande Momento

“O que aconteceu?”

Links

IMDb Site Oficial [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=4fM69EQWJYc[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
Botão Voltar ao topo