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O Grupo Baader Meinhof

(Der Baader Meinhof Komplex, ALE/FRA/TCH, 2008)

Até que ponto a revolução armada é justificável? Qual seria o limite entre a resistência e a diversão? Quanto dos fatos é modificado para justificar uma causa? E, pior, quanto de absurdos cometidos hoje são repetições de uma velha história?

Essas e muitas outras perguntas ficam martelando a cabeça dos espectadores que assistem ao título alemão O Grupo Baader Meinhof, indicado aos BAFTA, Oscar e Globo de Ouro na categoria de melhor filme estrangeiro e atualmente em cartaz nos cinemas do país.

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O filme traz a história dos fundadores da Facção Exército Vermelho (Rote Armee Frakte), grupo armado alemão de extrema esquerda, Andreas Baader e sua namorada Gudrun Ensslin, que formaram um grupo estudantil para protestar contra o capitalismo, o desenvolvimento nuclear e, principalmente, a guerra do Vietnã. Depois de presos por incediarem lojas de departamento, os dois se aproximaram da famosa jornalista Ulrike Meinhof que se junta e dá força ao movimento.

Desde o começo do filme, o diretor Uli Edel opta por escancarar sua realidade. O público, de cara, é jogado dentro de um confronto entre os universitários e a polícia alemã durante uma visita do Xá Mohammad Reza Pahlavi ao país que, depois de muita confusão, empurra-empurra, pancadaria e um estudante baleado nos deixa preparado para qualquer coisa.

O roteiro de Bernd Eichinger e com colaboração do próprio diretor, baseado em livro do jornalista Stefan Aust também não tem pena de ninguém. Além de ser direto, faz questão de mostrar cada personagem como ser humano, não como mártir, e lembra que qualquer ação armada é uma ação terrorista e criminosa, independente de quais são as intenções por detrás delas.

Os personagens principais estão muito bem desenvolvidos e mostram suas características em passagens pontuais, como uma sopa de lagosta, um carro rápido, um bebê chorando ou um domingo na praia. O elenco, com grandes nomes do cinema alemão, está confortável, funciona bem e há química entre os protagonistas.

A direção de arte, assinada por Hucky Hornberger e Bernd Lepel, também merece todos os elogios por reconstruir bem a época, assim como a competente montagem de Alexander Berner.

Apesar de todas as qualidades, o filme tem um momento específico que não acrescenta e quase atrapalha, logo depois da saída de Brigitte da prisão. Do mesmo jeito, peca em um ou outro coadjuvante, tenso ou forçado demais.

Algumas pessoas podem sair do cinema achando que a parcialidade do roteiro também é um defeito grave, já que conta uma versão diferente da conhecida. Embora, política e crenças à parte, os diálogos brilhantes mostrem que existe uma razão em tudo que foi dito.

Sem muito mais coisa a dizer, fica a sábia escolha de Edel para fazer pensar:

Blowin’ the Wind – Bob Dylan


How many roads must a man walk down,

Before you call him a man?
How many seas must a white dove sail,
Before she sleeps in the sand?
Yes and how many times must cannonballs fly,
Before they’re forever banned?
The answer, my friend, is blowin’ in the wind
The answer is blowin’ in the wind

Yes and how many years can a mountain exist,
Before it’s washed to the sea
Yes and how many years can some people exist,
Before they’re allowed to be free?
Yes and how many times can a man turn his head,
Pretend that he just doesn’t see?
The answer, my friend, is blowin’ in the wind
The answer is blowin’ in the wind.

Yes and how many times must a man look up,
Before he can see the sky?
Yes and how many ears must one man have,
Before he can hear people cry?
Yes and how many deaths will it take till he knows
That too many people have died?

The answer, my friend, is blowin’ in the wind

The answer is blowin’ in the wind

Um Grande Momento

A última conversa de Brigitte.

Prêmios e indicações (as categorias premiadas estão em negrito)

Oscar
: Filme Estrangeiro
BAFTA: Filme Estrangeiro
Globo de Ouro: Filme Estrangeiro

Links

Drama
Direção: Uli Edel
Elenco: Martina Gedeck, Moritz Bleibtreu, Johanna Wokalek, Nadja Uhl, Bruno Ganz, Eckhard Dilssner, Jan Josef Liefers, Vinzenz Kiefer, Volker Bruch
Roteiro: Stefan Aust (livro), Bernd Eichinger, Uli Edel
Duração: 150 min.
Minha nota: 8/10

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
3 Comentários
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Andressa
Andressa
03/08/2009 18:20

Estou bem curiosa para ver esse filme. Gosto muito da Martina Gedeck. Pena que o filme deve levar séculos para chegar aqui em Fortaleza…

Vinícius P.
Vinícius P.
03/08/2009 16:33

Confesso que o tema do filme não me interessa tanto, mas seus comentários me animaram bastante. Devo ver quando chegar por aqui!

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